A penúltima longa-metragem de Pedro Costa continua o trabalho com Ventura, que ultrapassa o papel de Vanda (No Quarto da Vanda, 2000) na série de filmes desde «Ossos» (1997). Ventura é uma personagem estratigráfica, resultado de um confronto entre forças ficcionais e documentais, que atravessa séculos de história portuguesa e do mundo. Há todo o tipo de coincidências e confrontos entre o passado e o presente, que se dão em glossolalia (vozes que espalham memória por todo o lado), como na extraordinária sequência no elevador, perto do fim, em que vemos Ventura e um soldado do 25 de abril como uma múmia, transformado em estátua de ouro, numa viagem sem fim.

Como está escrito na breve nota de divulgação do filme, «enquanto os jovens capitães conduzem a revolução nas ruas, o povo das Fontainhas procura o seu Ventura, que se perdeu no bosque.» Trata-se da Revolução de Abril percebida por aqueles que viam os militares, que combatiam em África, triunfarem na Metrópole (Portugal Continental). Não se percebia bem para os imigrantes africanos. Havia medo. Não se trata do delírio e da confusão da pessoa-personagem Ventura, trata-se do delírio e confusão da História. Tudo isto está dentro de um homem, muito tempo depois dos acontecimentos.

Ano: 2014

Duração: 105′

Cineasta nascido em 1959, em Lisboa, Pedro Costa realizou as seguintes longas-metragens: O Sangue (1989); Casa de Lava (1994); Ossos (1997); No Quarto da Vanda (2000); Onde jaz o teu sorriso (2001); Juventude em Marcha (2006); Ne Change Rien (2009); Cavalo Dinheiro (2014); Vitalina Varela (2019).

Realizadora natural da Mongólia, Lkhagvadulam Purev-Ochir possui mestrado em argumento (KinoEyes – European Filmmaking Masters, 2018). Está atualmente a fazer estudos de doutoramento na Universidade Lusófona sobre o tempo no cinema. O seu filme de estreia City of Wind esteve em competição no Venice Orizzonti 2023, tendo vencido o prémio de Melhor Ator.